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A dedaleira é uma planta polivalente cuja História se interliga com outras áreas além da medicinal e toxicológica. Na verdade, crê-se que o pintor holandês Van Gogh (1853-1890) utilizava esta planta medicinalmente no tratamento da epilepsia.

Figura 11: Pintura "Noite estrelada" de Van Gogh (1889)

Retirado de: http://www.wikiart.org/en/vincent-van-gogh/the-starry-night-1889, consultado a 2/04/2016

Não se sabe ao certo se, de facto, Van Gogh sofria de epilepsia, ou mesmo se administrava digitalis, mas vários estudos e observações atentas e perspicazes levaram à elaboração de uma teoria que tem como protagonista a dedaleira.

Entre as certezas, vários documentos relatam o historial familiar genético de Van Gogh de distúrbios neurológicos que incluem epilepsia, sendo que o próprio pintor também demonstrou ter episódios que apontam para a doença. No entanto, os poucos conhecimentos médicos da altura não permitiram um diagnóstico concreto. Sabe-se ainda que no decorrer do século XIV a digitalis era utilizada no tratamento da epilepsia e outras perturbações neurológicas. [1]

Figura 12: Pintura "Retrato de Dr. Gachet" de Van Gogh (1890)

Retirado de: http://annaboch.com/drgachet/, consultado a 2/04/2016

Ora, na pintura “Retrato de Dr. Gachet” (Figura 12) de 1890, Van Gogh representa o seu médico com um ramo de dedaleira na mão, o que sugere que a planta poderá ter sido prescrita a Van Gogh pelo seu médico Dr. Gachet. A base da teoria da utilização da dedaleira por Van Gogh reside nos possíveis efeitos tóxicos que o pintor possivelmente apresentava devido à planta. Efetivamente, a digitalis pode ter toxicidade a nível ótico originado xantopsia, uma condição em que os objetos observados parecem amarelos. Acontece que durante uma das fases da vida de Van Gogh as obras do pintor eram em tons de amarelo, podendo isso se dever a um efeito tóxico da digitalis a nível ótico. Também a pintura “Noite estrelada” (Figura 11) poderá ser outro indício uma vez que outra consequência desta toxicidade é a pessoa observar halos em redor dos pontos de luz, tal como se verifica na obra em questão [1,2,3].

Há vários relatos de casos em que de facto se verificou uma toxicidade a nível ótico em pacientes tratados com digoxina. A causa deste efeito ainda não é bem conhecida, no entanto, crê-se que é devido à inibição de Na+/K+ ATPases sensíveis à digoxina presentes na retina, o que leva à disfunção de cones e bastonetes [3,4,5].

Apesar das evidências apresentadas, estas suposições são apenas hipóteses, podendo até mesmo todos estes sintomas serem devidos a efeitos provocados por uma bebida frequentemente ingerida pelo pintor: o absinto.

[1] Voskuil, P. (2013). Diagnosing Vincent van Gogh, an expedition from the sources to the present “mer à boire”. Epilepsy & Behavior, 28(2), 177-180.

[2] Arnold, W. N., & Loftus, L. S. (1991). Xanthopsia and van Gogh's yellow palette. Eye, 5(5), 503-510.

[3] Lawrenson, J. G., Kelly, C., Lawrenson, A. L., & Birch, J. (2002). Acquired colour vision deficiency in patients receiving digoxin maintenance therapy.British journal of ophthalmology, 86(11), 1259-1261.

[4] Lelievre, L. G., & Lechat, P. (2007). Mechanisms, manifestations, and management of digoxin toxicity. Heart Metab, 35(9).

[5] Schneider, B. (1992). Na+, K+-ATPase lsoforms in the Retina. International review of cytology, 133, 151.

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