
Tratamento
Em caso de intoxicação por ingestão da planta ou infusão da mesma deve ser chamada de imediato ajuda médica, não se devendo induzir o vómito, a menos que haja indicação por parte dos serviços médicos.
No hospital, deverá ser feito um eletrocardiograma, e o doseamento de digitálicos, magnésio, potássio e cálcio no sangue que deverão depois ser monitorizados.
Efeitos tóxicos devidos a hipocalémia são corrigidos pela administração de cloreto de potássio a 40 mmol/L por perfusão intravenosa por hora.
Por outro lado, concentrações superiores a 6,0 mmol/l de potássio são indicativas de um maior nível de toxicidade e poderão ser corrigidas com a administração intravenosa de insulina-dextrose, sendo que a insulina interage diretamente com a bomba Na+/K+ ATPase alterando o efeito da digitoxina, no entanto, nestes casos, a terapêutica mais comum e viável é com a administração de fragmentos de imunoglobulina específicos da digoxina (Fab) [1, 2].
Não é recomendada a administração de cálcio quando há hipercalémia uma vez que aumenta o risco de paragem cardíaca.

Número de Emergência Nacional: 112
Linha de Emergência de Intoxicações: 808 250 143


Carvão ativado
Quando a ingestão da planta ocorreu a menos de 2 horas, sendo que ajuda a sua eliminação [2, 3].

Lavagem gástrica
Não é aconselhável pois podem aumentar a estimulação vagal e a fibrilação ventricular [9].


Hemodiálise
Pode ser útil em casos graves de hipercalémia mas não promove a remoção dos glicosídeos cardíacos acumulados nos tecidos (devido ao seu grande volume de distribuição) [5].
Anti-eméticos
Como por exemplo a metoclopramida, para diminuir a ocorrência de vómitos e, desse modo, diminuir a estimulação vagal.
Magnésio
Para a taquiarritmia ventricular [9].
Atropina e catecolaminas
Para tratar a bradicardia (<40 bpm) e arritmias [1].

Fragmentos de anticorpos específicos da digoxina
É um exemplo de imunotoxicoterapia, sendo um antídoto utilizado como primeira linha para reverter consequências cardíacas de uma toxicidade severa (nível de digoxina no sangue é superior a 10 mg/ml). Estes fragmentos de anticorpos ligam-se rapidamente à digoxina levando à sua remoção da Na+/K+ATPase, restabelecendo o fluxo de potássio para as células. O complexo digoxina-anticorpo é excretado por via renal, tendo como tempo de semi-vida 12 a 24 horas, tempo esse que é prolongado por falência renal. Este antídoto também é utilizado para quando há hipercalémia para corrigir os níveis de potássio [2,6,7,8].
O rácio de ligação da digoxina aos anticorpos é de 1:1, no entanto, o volume de distribuição da digoxina é 10 vezes superior, podendo por isso ser necessária mais que uma administração do antídoto. Apesar disto, a resposta é bastante rápida [9].
A posologia varia de acordo com a severidade da intoxicação, sendo que pode ser facilmente calculada sabendo-se a quantidade ingerida, isto porque 40 mg de anticorpos digoxina-Fab se ligam a 0.5 mg de digoxina [9].
Apesar deste fármaco ser específico para a digoxina, que não está presente na composição da dedaleira, é eficaz em intoxicações por outros compostos digitálicos, mais concretamente por digitoxina, que está em elevadas quantidades na dedaleira [10,11].

O efeito inotrópico da digoxina resulta da inibição da bomba sódio potássio ATPase.
A digoxina tem maior afinidade para DigiFab que para o recetor da ATPase.
O DigiFab liga-se à digoxina sequestrando-a para o fluído extracelular de modo a reduzir a cardiotoxicidade.
Figura 16: Mecanismo de ação dos fragmentos de anticorpo específicos da digoxina.
Adaptado de: http://www.digifab.us/about-digifab/efficacy.html
[1] Lelievre, L. G., & Lechat, P. (2007). Mechanisms, manifestations, and management of digoxin toxicity. Heart Metab, 35(9).
[2] Baud, F. J., Borron, S. W., & Bismuth, C. (1995). Modifying toxicokinetics with antidotes. Toxicology letters, 82, 785-793.
[3] Bauman, J. L., DiDomenico, R. J., & Galanter, W. L. (2006). Mechanisms, manifestations, and management of digoxin toxicity in the modern era.American journal of cardiovascular drugs, 6(2), 77-86.
[4] http://www.nytimes.com/health/guides/disease/digitalis-toxicity/overview.html - consultado em 26/05/2016
[5] Ehle, M., Patel, C., & Giugliano, R. P. (2011). Digoxin: clinical highlights: a review of digoxin and its use in contemporary medicine. Critical pathways in cardiology, 10(2), 93-98.
[6] Smith, T. W., & Haber, E. (1973). Digitalis (fourth of four parts). The New England journal of medicine, 289(21), 1125.
[7] Wenger, T. L., Butler, V. P., Haber, E., & Smith, T. W. (1985). Treatment of 63 severely digitalis-toxic patients with digoxin-specific antibody fragments.Journal of the American College of Cardiology, 5(5s1), 118A-123A.
[8] Smith, T. W., Butler Jr, V. P., Haber, E., Fozzard, H., Marcus, F. I., Bremner, W. F., ... & Phillips, A. (1982). Treatment of life-threatening digitalis intoxication with digoxin-specific Fab antibody fragments: experience in 26 cases. New England Journal of Medicine, 307(22), 1357-1362.
[9] Dawson, A., & Buckley, N. (2012). Digoxin. Medicine, 40(3), 122-124.
[10] Schmitt, K., Tulzer, G., Häckel, F., Sommer, R., & Tulzer, W. (1994). Massive digitoxin intoxication treated with digoxin-specific antibodies in a child.Pediatric cardiology, 15(1), 48-49.
[11] Lin, C. C., Yang, C. C., Phua, D. H., Deng, J. F., & Lu, L. H. (2010). An outbreak of foxglove leaf poisoning. Journal of the Chinese Medical Association, 73(2), 97-100.