top of page

Os compostos da dedaleira têm sido usados clinicamente para o tratamento de insuficiência cardíaca por mais de 200 anos e continuam a ser a fonte de preparações comerciais. No entanto, o seu lugar na terapêutica permanece em debate uma vez que, apesar de eficientes, têm uma margem terapêutica estreita [1].

Na verdade, o fármaco digoxina é atualmente comercializada, tendo inicialmente sido extraído da dedaleira. Tendo em conta que este composto está em baixas quantidades na espécie Digitalis purpurea, e em concentrações mais elevadas na espécie Digitalis lanata, passou a ser extraída desta última. [Saber mais sobre os medicamentos no mercado]

Os compostos digitálicos da dedaleira têm sido muito utilizados no tratamento de problemas cardíacos como a insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas e fibrilação auricular [2].

No entanto, esta planta, e respetivos compostos, não é apenas utilizada a nível cardíaco, tendo sido amplamente estudada pelas suas propriedades terapêuticas. 

Dosagem

Os compostos presentes na folha de dedaleira têm uma janela terapêutica estreita (0,6-1,2 nmol/L (0,5-1,0 µg/L)), o que requer uma supervisão médica atenta para que haja um uso seguro aquando a sua utilização da terapêutica, por exemplo em infusões [10].

Relativamente à terapia farmacológica da digitoxina, a dose inicial é de 0,8-1,2 mg durante 2 a 4 dias, e a dose de manutenção é de 0,4-0,8 mg, devendo esta ser repetida durante vários dias. Normalmente as tomas são de 1 mg até 2 mg por dia [3].

Segundo a Farmacopeia Portuguesa 9, o fármaco deve ser constituído pelas folhas secas de D. purpurea L., devendo ter um teor mínimo de 0,3% de heterósidos cardenoliticos, expressos em digitoxina, em relação a fármaco seco. [4]

Previamente à administração de digitálicos deverá ser avaliada a função renal, hepática e da tiroide,devendo ainda ser analisado o estado eletrolítico do doente, de modo a evitar efeitos tóxicos [1].

Efeitos cardiovasculares

Os glicosídeos cardíacos presentes na dedaleira são utilizados em problemas cardíacos como insuficiência cardíaca por terem efeitos inotrópicos positivos, ou seja, levam ao aumento da contratilidade muscular, ou seja, da força de contração do miocárdio. Este efeito ocorre devido à inibição da bomba de sódio-potássio ATPase com alteração do gradiente de sódio (aumento do sódio intracelular) que promove o influxo de cálcio nas células cardíacas através do trocador de sódio-cálcio que passa a funcionar de forma inversa devido ao excesso de sódio intracelular, promovendo a saída de sódio e entrada de cálcio [10].

Possuem  também alguma atividade antiarrítmica, no entanto, em doses mais elevadas, podem induzir arritmias.

Além dos seus efeitos cardiovasculares, a dedaleira e os seus compostos têm vindo a ser estudados para outros efeitos promissores:

Cancro

Estudos in vitro e de rastreio têm demonstrado propriedades citotóxicas dos glicosídeos e flavonoides presentes na D. purpurea e D. lanata. Os mecanismos de ação incluem citotoxicidade direta (com consequente apoptose), inibição da citotoxicidade induzida pela aflotoxina, inibição da indução da síntese de óxido nítrico e aumento da glutationa-S-transferase.

Sabe-se ainda que a digitoxina inibe o crescimento de linhas celulares cancerígenas em concentrações comumente encontradas em pacientes cardíacos medicados com a mesma. Pensa-se ainda que possa promover a apoptose celular em hepatocarcinomas [5], sendo já conhecidos os seus efeitos contra células non-small de cancro do pulmão [6], leucemias, cancro pancreático, entre outros. Estudos efetuados sugerem ainda que a digitoxina possui uma seletividade elevada para células cancerígenas, comparativamente com células normais [7, 8].

No entanto, como a janela terapêutica é estreita, é necessário o desenvolvimento de terapias anticancerígenas seguras e eficazes, devendo a farmacologia e segurança ser bem elucidadas [6].

Diabetes

Um estudo realizado em ratos hiperglicémicos e com dislipidemias demonstrou uma tolerância aumentada à glucose 2 horas depois de estes receberam uma dose única da digitonina. Foram também reportados efeitos positivos relativamente ao perfil lipídico. Assim, foi possível concluir que a digitonina contribui para o aumento da tolerância à glicose e tem efeitos benéficos sobre os lipídios séricos por melhorar a atividade antioxidante [9].

[1] Proença da Cunha A. et al. Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia, 4ª ed, Fundação Caloustre Gulbenkian, 2012

[2] Elbaz, H. A., Stueckle, T. A., Tse, W., Rojanasakul, Y., & Dinu, C. Z. (2012). Digitoxin and its analogs as novel cancer therapeutics. Experimental Hematology & Oncology, 1(1), 1.

[3] Bruneton, J. Farmacognosia: Fitoquímica Plantas medicinales. 2ª ed. Editorial Acribia,S.A. 2001

[4] Farmacopeia Portuguesa 9. Lisboa: Ministério da Saúde, INFARMED; 2008

[5] Huang, W., Jeng, Y., Fong, I., & Hsu, H. (2014). 184: Roles of digoxin and digitoxin in hepatocellular carcinoma. European Journal of Cancer, (50), S42.

[6] Eldawud, R., Stueckle, T. A., Manivannan, S., Elbaz, H., Chen, M., Rojanasakul, Y., & Dinu, C. Z. (2014). Real-time analysis of the effects of toxic, therapeutic and sub-therapeutic concentrations of digitoxin on lung cancer cells. Biosensors and Bioelectronics, 59, 192-199.

[7] López-Lázaro, M., Palma, D. L. P. N., Pastor, N., Martín-Cordero, C., Navarro, E., Cortés, F., Ayuso, M.J.  & Toro, M. V. (2003). Anti-tumour activity of Digitalis purpurea L. subsp. heywoodii. Planta medica, 69(8), 701-704.

[8]Lee, J. Y., Woo, E., & Kang, K. W. (2006). Screening of new chemopreventive compounds from Digitalis purpurea. Die Pharmazie-An International Journal of Pharmaceutical Sciences, 61(4), 356-358.

[9] Ebaid, G. M., Faine, L. A., Diniz, Y. S., Rodrigues, H. G., Galhardi, C. M., Ribas, B. O., Fernandes, A. A. & Novelli, E. L. (2006). Effects of digitonin on hyperglycaemia and dyslipidemia induced by high-sucrose intake. Food and chemical toxicology, 44(2), 293-299.

[10] Bauman, J. L., DiDomenico, R. J., & Galanter, W. L. (2006). Mechanisms, manifestations, and management of digoxin toxicity in the modern era.American journal of cardiovascular drugs, 6(2), 77-86.

bottom of page