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Perspetiva histórica

O uso terapêutico da dedaleira nem sempre foi conhecido ou claro. Mas sabe-se que os compostos digitálicos provenientes da dedaleira eram utilizados para fins medicinais desde o século XVI, tendo a dedaleira chegado a ser incluída na farmacopeia de Londres em 1661. No entanto, o uso indiscriminado e casual desta planta levou a muitos falhanços terapêuticos e efeitos tóxicos que levaram ao desuso da dedaleira e à sua saída, em 1745, da farmacopeia em questão [1].

 

No século XVIII o edema era considerado uma doença fatal, sendo que este pode ser descrito como um inchaço devido à retenção de líquidos. Ora, atualmente sabe-se que este edema era, na verdade, provocado pela insuficiência cardíaca, patologia em que há uma incapacidade do coração para bombear eficazmente o sangue. A acumulação de fluidos resultante desta condição era tratada eficazmente numa aldeia em Shropshire, Inglaterra, por uma velha senhora botânica e farmacêutica. Mrs. Hutton, como também é conhecida, foi quem verdadeiramente descobriu o poder da dedaleira no tratamento de problemas cardíacos, elaborando uma infusão herbal de dedaleira em combinação com outras plantas que tratava eficazmente o edema [1, 2].

Figura 8: William Withering

Retirado de: http://sohomint.info/lunarwithering.html - consultado em 23/03/2016

Curiosidade

William Withering autodiagnosticou-se com tuberculose pulmonar, tendo em duas ocasiões vindo passar o Inverno no clima mais ameno Português. No entanto, a sua saúde não melhorou. Durante estas ocasiões, o médico realizou várias análises à água das termas de Caldas da Rainha, tendo mesmo publicado a obra “A chemical analysis of the water at Caldas da Rainha”. Foi ainda tornado sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa [3].

Segundo a lenda, o médico e botânico William Withering (Figura 8), que descendia de uma família Inglesa de médicos, analisou uma doente que estava a morrer de edema e cuja probabilidade de sobreviver seria muito baixa, de acordo com o médico, não havendo, portanto, nada a fazer. Acontece que, tempos depois, Withering tomou conhecimento que a senhora tinha afinal recuperado após tomar a infusão de Mrs. Hutton. Surpreendido, Withering partiu numa busca pela descoberta do elemento secreto: a dedaleira! (Figura 10) [1]

 

Durante 10 anos o médico explorou as propriedades terapêuticas da dedaleira, concluindo que a causa dos edemas era, na verdade, a insuficiência cardíaca, e que a dedaleira era capaz aumentar a força de contração do coração de modo a bombear os fluidos para os rins. Assim, em 1785 publicou a sua obra "An Account of the Foxglove and some of its Medical Uses" (Figura 9), onde descreveu as propriedades terapêuticas da dedaleira [1].

Figura 9: Livro "An Account of the Foxglove and some of its Medical Uses" de William Withering. 

Retirado de:  http://www.abebooks.com/book-search/title/an-account-of-the-foxglove/author/william-withering/kw/william-withering/

Figura 10: Ilustração da dedaleira presente no livro "An Account of the Foxglove and some of its Medical Uses" de William Withering.

Retirado de: https://collections.countway.harvard.edu/onview/items/show/12628, consultado a 27/03/2016

[1] Krikler, D. M. (1985). The foxglove,“the old woman from Shropshire” and William Withering. Journal of the American College of Cardiology, 5(5), 3A-9A.

[2] Jacalyn Duffin. Women Pioneers in Texas Medicine By Elizabeth Silverthorne, (2005). Clio in the clinic: History in medical practice. University of Toronto Press, 191-198 

[3] http://sohomint.info/lunarwithering.html, consultado em 26/05/2016

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