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Comunicação de risco

A dedaleira é uma flor que existente de norte a sul de Portugal e cujas flores têm um formato característico em dedal. Estas flores são muito conhecidas pois, quando retiradas da planta, e se pressionada com os dedos a extremidade que abre em flor, o ar fica retido no interior e pode-se "estourar" contra uma superfície, criando um estouro característico. 

 

Assim, o que torna esta planta perigosa é a ignorância que existe relativamente às suas propriedades potencialmente tóxicas. Efetivamente, esta planta pode ser vulgarmente encontrada por qualquer um, nomeadamente crianças,  que poderão ser consideradas como o grupo de maior risco, uma vez que podem ficar intoxicadas por sugar as flores ou ingerir as suas sementes ou folhas, tendo já sido reportados vários casos de intoxicações [1]. Por este motivo, é fundamental vigiar as crianças sempre que estejam na presença destas flores e adverti-las para os cuidados a ter.

Foram também já reportadas várias mortes e emergências médicas causadas pela preparação de infusões com folhas de dedaleira por confusão com de folhas de confrei. O confrei é uma planta utilizada terapeuticamente e cujas folhas são semelhantes às da dedaleira quando esta não está em floração. No entanto, o gosto amargo das folhas de dedaleira muitas vezes impede a sua ingestão, além de que as propriedades eméticas da dedaleira também podem limitar a sua absorção sistémica pela indução do vómito [2]. É de extrema importância alertar para as diferenças entre as folhas de dedaleira e de confrei de modo a que não ocorram incidentes (Figura 16).

Figura 16: Folhas de dedaleira (em cima) e de confrei (em baixo).

Retirado de: http://www.emeraldcitylandscapes.co.nz/gardendiary/2016/4/7/comfrey-and-foxglove-a-word-of-caution, consultado em 24/04/2016

Animais que, por exemplo durante a pastagem encontrem esta planta, podem também ser intoxicados por ela, tendo sido reportado que a dose tóxica para vacas é de 170-199 g, para cavalos é de 133-142 g e para porcos de menos de 28 g [6].

A intoxicação por digitálicos está também associada à ingestão intencional com intenção suicida.

A ingestão de qualquer parte da dedaleira ou de uma infusão da mesma pode induzir uma toxicidade aguda severa a nível cardíaco, podendo mesmo causar a paragem cardíaca e morte, bem como toxicidade a nível gastrointestinal e neurológica. Em caso de intoxicação deve ser pedida ajuda médica de imediato.

Casos reais [3]

Em 2005, um botânico amador suicidou-se com a ingestão de folhas de dedaleira, uma vez que conhecia as propriedades da planta, bastou-lhe comer duas folhas para 24h depois ter um ataque cardíaco fatal.

Uma farmacêutica hospitalar reformada preparou uma quiche utilizando folhas de dedaleira para um senhor. Após a ingestão da quiche, o batimento cardíaco do senhor ficou muito lento e, durante dias, não foi possível determinar a quantidade de digitalis no sangue uma vez que o valor era demasiado alto para se determinado pelos métodos disponíveis.

Em 2006, um senhor foi condenado à prisão depois de confessar ter assassinado 29 pessoas em  hospitais em que trabalhou como enfermeiro, dando-lhes injeções letais de digoxina [4].

Em abril de 2010, nos Estados Unidos da América, uma mulher foi acusada de envenenar o seu marido com uma refeição de esparguete e salada com folhas de dedaleira. O marido, que deu entrada no hospital com sintomas gastrointestinais severos e com problemas cardíacos, admitiu que a salada tinha um sabor amargo, mas pressupôs que era uma planta “da moda” que por vezes surge [5].

[1] R.S. Fowler, L. Rathi, J.D. Keith (1964). Accidental digitalis intoxication in children. The Journal of Pediatrics, 64(2) 188-200

[2] Lin, C. C., Yang, C. C., Phua, D. H., Deng, J. F., & Lu, L. H. (2010). An outbreak of foxglove leaf poisoning. Journal of the Chinese Medical Association, 73(2), 97-100.

[3] http://www.thepoisongarden.co.uk/atoz/digitalis.htm; consultado a 26/04/2016

[4]http://www.dailymail.co.uk/news/article-2316571/Charles-Cullen-Serial-killer-nurse-murdered-40-patients-speaks-prison-time-claims-mercy-killings.html; 24/05/2016

[5] http://www.thedenverchannel.com/news/deputy-i-forgive-wife-accused-of-trying-to-poison-me; consultado a 24/05/2016

[6] Poppenga, Robert H. (2002). Herbal Medicine: Potential for Intoxication and Interactions With Conventional Drugs. Clinical Techniques in Small Animal Practice, 17(1), 6-18

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