top of page

Farmacocinética

O conhecimento da farmacocinética dos compostos digitálicos, é importante para controlar a toxicidade associada aos mesmos e prever os seus efeitos tóxicos.

A dedaleira possui inúmeros compostos digitálicos que apresentam diferente Farmacocinética. Será dado destaque à digitoxina, por ser o composto principal da Digitalis purpurea, e à digoxina, por ser um  metabolito cardioativo da digitoxina.

Absorção

Digitoxina: 90-100% é absorvida no trato gastrointestinal aquando ingestão oral [1].

A digitoxina e digoxina, bem como outros compostos digitálicos, são substrato da bomba de efluxo Glicoproteina-P. Isto pode levar a interações medicamentosas, nomeadamente por fármacos que inibem a Glicoproteína-P com consequente aumento dos níveis séricos de digitálicos por aumento da sua absorção intestinal e diminuição da excreção renal [3,4,5].

Distribuição

Digitoxina: 97% circula no sangue ligada à albumina [6].

Digoxina: 20 a 25% encontra-se ligada a proteínas plasmáticas [8].

 

Tanto a digitoxina como a digoxina, e outros compostos digitálicos, têm um grande volume de distribuição (de 5 a 7 L/kg), acumulando-se nos tecidos, como o miocárdio, e por isso os níveis plasmáticos não refletem a quantidade presente no organismo e a hemodiálise é pouco eficiente [2,8].

Metabolismo

Digitoxina: ocorre maioritariamente no fígado, sendo a digoxina o principal metabolito [9,2,6]. A biotransformação da digitoxina origina vários metabolitos, descritos na figura 14, sendo alguns cardioativos e outros não [6].

A digitoxina é pouca polar e apresenta resistência à conversão em compostos mais polares e suscetíveis de ser excretados  [2, 10].

Digoxina: o seu metabolismo ocorre no fígado por hidrólise, oxidação e conjugação, não sendo dependente do citocromo-P450. Alguns indivíduos excretam uma maior percentagem do metabolito inativo, a dihidrodigoxina, que outros [8].

Figura 15: Metabolismo da digitoxina.

Adaptado de: Nokhodian, A., Santos, S. R. C. J., & Kirch, W. (1993). Digitoxin and its metabolites in patients with liver cirrhosis. European journal of drug metabolism and pharmacokinetics, 18(2), 207-213.

Excreção

Digitoxina: 60-80% da digitoxina e seus metabolitos são excretados na urina e 17% nas fezes [2]. A quantidade de digitoxina excretada inalterada varia, tendo sido reportadas percentagens diferentes de acordo com a altura da recolha da amostra [2, 6, 10]. Grande parte da digitoxina é excretada na bilis ficando retida no ciclo enterohepático, uma vez que é reabsorvida no intestino, acabando por ser excretada a nível renal [2, 10].

 O tempo de semi-vida é de 4 a 6 dias [6,10].

Digoxina: a digoxina é mais polar que a digitoxina, sendo por isso mais rapidamente excretada por via renal e predominantemente na sua forma inalterada (50 a 70%). Apenas 12% é excretada pelas fezes [8].

O tempo de semi-vida é de 36 h, sendo 37% excretada por dia [7].

A concentração plasmática é tanto maior quanto maior for a quantidade ingerida, sendo o mesmo aplicado aos sintomas e à toxicidade. Em doentes com insuficiência renal a velocidade de excreção é mais reduzida e a concentração plasmática é, consequentemente, superior, independentemente da dose ingerida [8].

[1] Nokhodian, A., Santos, S. R. C. J., & Kirch, W. (1993). Digitoxin and its metabolites in patients with liver cirrhosis. European journal of drug metabolism and pharmacokinetics, 18(2), 207-213.

[2] Braunwald E, Klocke FJ. Digitalis. Annual review of medicine. 1965;16:371-86.

[3]Gozalpour, E., Wilmer, M. J., Bilos, A., Masereeuw, R., Russel, F. G., & Koenderink, J. B. (2016). Heterogeneous transport of digitalis-like compounds by P-glycoprotein in vesicular and cellular assays. Toxicology in Vitro, 32, 138-145.

[4] Gozalpour, E., Wittgen, H. G., van den Heuvel, J. J., Greupink, R., Russel, F. G., & Koenderink, J. B. (2012). Interaction of digitalis-like compounds with p-glycoprotein. toxicological sciences, kfs307.

[5] Fromm, M. F., Kim, R. B., Stein, C. M., Wilkinson, G. R., & Roden, D. M. (1999). Inhibition of P-glycoprotein–mediated drug transport a unifying mechanism to explain the interaction between digoxin and quinidine.Circulation, 99(4), 552-557.

[6] Smith, T. W. (1985). Pharmacokinetics, bioavailability and serum levels of cardiac glycosides. Journal of the American College of Cardiology, 5(5), 43A-50A.

[7] Smith TW, Haber E. Digitalis (third of four parts). N Engl J Med. 1973 Nov 15;289(20):1063–1072

[8] Ehle, M., Patel, C., & Giugliano, R. P. (2011). Digoxin: clinical highlights: a review of digoxin and its use in contemporary medicine. Critical pathways in cardiology, 10(2), 93-98.

[10]Anderson, K. E., Bergdahl, B., Bodem, G., Dengler, H. J., Dutta, S., Foerster, J. M., ... & Lee, G. (2012). Cardiac Glycosides: Part II: Pharmacokinetics and Clinical Pharmacology. Springer Science & Business Media. 

bottom of page